sábado, 17 de dezembro de 2011

 Não vá pisar em mim

Cortar os pulsos não é o recomendado;
O certo é segurar a vida com três mãos
E morde-la no calcanhar.
Pendurar-se pelo pescoço não é nada agradável;
O bom é balançar-se nos braços do imprevisto e voar pelo roxo céu do entardecer...
Envenenar-se,
 jogar-se de edifícios está démodé;
Não é de bom tom...
A música toca para que você dance, suave e graciosamente pelo salão,
Nos braços peludos de todos os convidados estranhos que o universo chamou.
Mas eu,
Eu não me importo em seguir o recomendado,
 em agradar...
Com o tom sinistro que a música toca,
eu saio da festa, vôo na escuridão e flutuo pelos edifícios da cidade morta
Estou invisível, com braços abertos por navalhas,
enforcada pelo cosmos e roendo os pés da mesa.

                                       Jalna Gordiano
 A calmaria

Não é o desespero dos gritos,
É  pior,
O desespero da calmaria.
Os serenos olhares,
 as belas coisas,
os mortais.
Feito a venenosa aranha que se finge de morta
Minha alma ataca paralisando-se em contato com o alheio,
E meus pensamentos amansam-se no meio da tormenta.
Não é o medo do desconhecido,
Nem do impensável;
É a certeza da morte em todos os tons.
Mesmo que dure quinhentos anos...
Mesmo que os amores firmem-se sob os pés enrugados...
Mesmo que promessas sejam feitas...
O assassinato já foi cometido.
O fedor do podre já se foi.
Resta agora apoiar os cotovelos na sacada
E esperar o que já passou.

                                                                                     Jalna gordiano

                                                                                

domingo, 4 de dezembro de 2011

Fuja!

Fuja!
Vou sempre fugir.
Quando você achar que me prendeu, encontrarás só o vazio do ninho...
Não fui feita pra esse negócio de até a morte!!
Quando você olhar pra trás,
Estarei seguindo outra pessoa,
E na sua lista de fãs,
O meu nome vai constar ausente.
Nada é tão importante, mas me lembro dos segundos passados,
ontem é uma sombra,
Semana passada... quando foi?
Vou sempre fugir,
é assim que me movimento
E é assim que me sinto viva!
Se agora nossa conversa dura tantos minutos,
depois eu não lembro do teu nome! Muito menos do sobrenome!!!
Viva como quem foge, e quando o fim achar que te pegou,
Quando o medo do desconhecido for só o que te cercar,
Quando todos pensarem te conhecer...
Fuja do fim,
 conheça os desconhecidos
E nunca se deixe conhecer!!!
Olhe para o nada e fuja,
Esse é o máximo que posso ser
 para ti,
Uma gostosa e saudosa
Fuga!

Primeira postagem

O  primeiro tinha de ser nesta minúscula letra, só pra sacanear logo na entrada! Na próxima, eu dou uma lubrificada...

Ode ao fim


Só o fim é bonito
Por ser tão inesperado e tão real...
Existe pintura mais bela
                                          Que o enterro dourado de um astro?
Junte-se a mim,
                   Contemplemos o pôr-do-sol.
O fim é lindo.
               Tão absurdo,
                                   Tão assustador.
Beleza somente encontrada em coisas absurdas,
Pois,
Muito mais bonito que o nascer,
                                             O morrer é o fim da guerra.
Não temos controle algum do parar,
                                                           Pairar,
No fim de tudo,
                        Como as nuvens,
                                               Na pintura divina do pôr-de-mim-mesmo.




                                                                                                                                   2003