Concurso Público
Não existe nada mais humilhante que
crescer. Enquanto crianças, possuímos a liberdade nos bolsos, e quando a
necessitamos, é só piscar que ela irradia, facilmente a achamos. Mas ao crescer
a liberdade torna-se esporádica e quando dela precisamos, temos de criar uma
senha, confirmar a senha, autenticar em duas vias, envia-la e esperar a
resposta do gabinete máster.
Foi exatamente o que vi em várias
ocasiões ao decorrer da minha jornada, a manipulação com a qual somos forçados
a conviver ao tornarmo-nos adultos. Tristes e desesperançosos, lúgubres,
compridas e barrigudas crianças. Manadas de solitários elefantes, grupos de bois
conformados ao abate do concurso público.
Porque de todas as cores, formas,
cheiros bons e risadas, sobrou-nos o
miserável penar do concurso público. Lugar final do bicho triste adulto, onde o
duelo contra milhares de concorrentes faz-se num sangrento mar de canetas
esferográficas (azul ou preta) e as gastas carteiras de identidade mostram os
rostos fracassados e desesperançosos deste pobre animal. Porque o sorridente candidato
ao adentrar a sala, no fundo, não passa do mais miserável dos miseráveis,
tentando ser o espermatozoide vencedor, em mais uma batalha já conhecida e
perdida.
Pois tal guerra não passa de mais
uma fogueira vaidosa, de mais uma rinha de galo, em que voam as penas e sobram
a espora, o sangue e o coitado desgraçado de um bicho adulto morto, com seu
mole e triste pescoço, esticado no chão da pontuação não suficiente.
E o galo vencedor?
Este empina a crista, todo pávulo,
cheio de si. Pobre futuro cadáver! Mal sabe que o que lhe aguarda! Desfilar
pelo cinza e desesperador corredor vazio do umbral, ironicamente chamado de
funcionalismo público!
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