sábado, 9 de fevereiro de 2013

Concurso público


Concurso Público
Não existe nada mais humilhante que crescer. Enquanto crianças, possuímos a liberdade nos bolsos, e quando a necessitamos, é só piscar que ela irradia, facilmente a achamos. Mas ao crescer a liberdade torna-se esporádica e quando dela precisamos, temos de criar uma senha, confirmar a senha, autenticar em duas vias, envia-la e esperar a resposta do gabinete máster.
Foi exatamente o que vi em várias ocasiões ao decorrer da minha jornada, a manipulação com a qual somos forçados a conviver ao tornarmo-nos adultos. Tristes e desesperançosos, lúgubres, compridas e barrigudas crianças. Manadas de solitários elefantes, grupos de bois conformados ao abate do concurso público.
Porque de todas as cores, formas, cheiros bons e  risadas, sobrou-nos o miserável penar do concurso público. Lugar final do bicho triste adulto, onde o duelo contra milhares de concorrentes faz-se num sangrento mar de canetas esferográficas (azul ou preta) e as gastas carteiras de identidade mostram os rostos fracassados e desesperançosos deste pobre animal. Porque o sorridente candidato ao adentrar a sala, no fundo, não passa do mais miserável dos miseráveis, tentando ser o espermatozoide vencedor, em mais uma batalha já conhecida e perdida.
Pois tal guerra não passa de mais uma fogueira vaidosa, de mais uma rinha de galo, em que voam as penas e sobram a espora, o sangue e o coitado desgraçado de um bicho adulto morto, com seu mole e triste pescoço, esticado no chão da pontuação não suficiente.
 E o galo vencedor?
Este empina a crista, todo pávulo, cheio de si. Pobre futuro cadáver! Mal sabe que o que lhe aguarda! Desfilar pelo cinza e desesperador corredor vazio do umbral, ironicamente chamado de funcionalismo público!

Nenhum comentário:

Postar um comentário